21 de mai. de 2013

24.


Estava eu sentada num decrépito transporte público, perto da janela, quando vi uma aranha. Deus, como eu as odeio, com suas pequenas pernas perambulando de cima em baixo sem que muitas pessoas a notem - de fato, acredito que eu era a única pessoa que notou seus movimentos.
Enquanto o trânsito corria, ia ela, subindo por sua linha prateada, debochando de mim por não poder fazer isso. Chegando perto demais da janela, só para depois deslizar em outra direção.
Apesar do meu ódio pela aracnídea, eu não pensei em matá-la. De fato, eu não pensei nem em avisar que ela exsitia. Para mim ela era uma bandida, uma carona ilícita naquele meio de transporte cheio de pessoas cansadas e crianças tagarelando.
Então, de súbito, a aranha foi apreciar mais uma vez a vista panorâmica e o vento a levou. Sem mais explicações, sem dizer um adeus, ela se foi. Sua teia continou balançando, um fio da mais fina luz refletida, vazio.
E eu não pensei no quanto eu estava contente por não dividir o espaço com aquele bichinho, ou como isso era filosófico - a beira da janela levando o ser ao desaparecimento. Eu tinha outra preocupação na minha cabeça fervilhante.
Eu só conseguia pensar que amanhã eu faço 24 anos.
E só nisso.

a música que ajudou a verbalizar esse sentimento.

2 comentários:

Paloma Engelke disse...

Para mim não existe poesia, tenho pavor de caronas clandestinas no ônibus: uma vez tive que ficar o caminho inteiro acompanhando os movimentos de uma barata no teto pra garantir que ela não ia cair na minha cabeça.
24 é um número lindo, Ju! Mas não dou parabéns ainda porque dizem as más línguas (das avós) que faz mal.
Beijos.

Dani disse...

Sou dessas que vê poesia em tudo também. rs
E parabéns, muitas felicidades e tudo de bom.
Beijos