4 de out. de 2007

O feio galã

Eu sempre me perguntei por quê gostava de azul, não de rosa. De morango, não chocolate. De ler, não fofocar. Dos feios, não dos galãs.
Minha vida infanto-juvenil girou em torno de um feio em especial. Aos meus olhos, ele era a coisa mais linda que Deus, com seu piloto provavelmente falhando, tinha desenhado. Orelha de abano, olhos esbugalhados, magro igual um graveto, branco igual um papel. Na minha cabeça tudo aquilo era lindo demais pra ser verdade! Eu nunca entendi por que as pessoas riam de mim quando sabiam que gostava dele, nem entendia por que me diziam que eu era 'muita areia pr'aquele caminhão'. Acho que eu olhava o interior dele, ou o que achava que tinha lá. Infelizmente, o interior era oco, podre e insensível. Então, o feinho me machucou e deixou marcas em mim que acho que nunca vão se apagar.
Mesmo assim, continuo achando galãs feios e feios galãs. Mas lembro-me de que nem todo galã é um idiota que só vai galinhar e te iludir, assim como nem todo feio é um fofo que vai ser um ótimo namorado. Penso que eles são folhas em branco que vão se preenchendo conforme eu os conheço. Ah sim, e continuo lendo muito, porque fofoca não leva a lugar nenhum.

Texto para o TUDO DE BLOG da Revista CAPRICHO.

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